segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Volta Às Aulas
( um retorno cada vez mais caro )


" Juvenal Ouriço olhou o cartaz na porta: Escolinha A Toca da Raposa . Entrou, sentou - se e alisando seus vastos bigodes ficou aguardando diminuir o movimento da secretaria. Quando a última mãe de aluno retirou - se , Juvenal levantou - se e dirigiu - se à secretária :
- Por obséquio, eu desejava fazer uma matrícula. 
Pois não - disse a moça, apanhando uma ficha de matrícula - como é o nome de seu filho ?
- Não. Não é para o meu filho.
- Não? Pra quem é então? Seu sobrinho ?
- Não senhora . É pra mim mesmo.
- O senhor ? Mas aqui nós só temos maternal , jardim, alfabetização, essas coisas. É uma escolinha de primeiro grau.
- Eu sei - respondeu Juvenal muito sério - Eu vim me matricular no jardim de infância...
A professora informou o preço da anuidade , deu o modelo do uniforme e forneceu a relação do material escolar . Juvenal leu com atenção a longa lista e observou:
- Esse material aqui é até pro dia do vestibular ?
- Não senhor. É só para esse ano ...
Terminadas as aulas , Juvenal sentou - se emburrado no degrau da escola e indagou : - E agora , como é que eu saio ? Tia Lúcia sugeriu que chamasse a mãe. - " Minha mãe está muito velhinha "...
Aguardando a chegada da empregada junto com Juvenal , tia Lúcia não conseguiu esconder sua curiosidade e perguntou : " O que o senhor está fazendo aqui na escola? O senhor já não sabe de tudo isso ?"
- Sei, mas meus filhos não sabem.
- E o senhor tem filhos ?
- Tenho , cinco , pequenos.
- E por que não os coloca na escola ?
- Porque eu teria que abrir falência. Achei que seria melhor assim : ao invés de mandá - los , eu venho e à noite quando chego em casa conto pra eles tudo o que eu aprendi.
- E dá resultado ?
- Pode não dar. Mas sai muito mais barato. "
Excertos de uma saborosa crônica do livro " Juvenal Ouriço Repórter " da autoria de Carlos Eduardo Novaes: romancista , contista , cronista e teatrólogo carioca , publicado em 1977.
Quatro décadas passadas, o cenário continua bastante sombrio em Pindorama .Os livros didáticos persistem com preços estratosféricos , inacessíveis à maioria das pessoas. Cito como exemplo uma publicação indicada para o ensino fundamental , no ano letivo de 2019 : um opúsculo sobre cidadania, constando de 29 páginas, ao custo de 50 reais, e um livro de Geografia ao preço de 190 reais . Crueldade !
" Um país se faz com homens e livros " , frase do grande Monteiro Lobato (1882 - 1948 ) cada vez fica mais distante dessa brutal realidade .Continuaremos sendo um país do faturo e não do futuro. Até quando ?
Uma lástima! Acorda , Brasil !

Nenhum comentário:

Postar um comentário