SOBRE POMBAS, BOMBAS
E SAPOS
“ Enfunando os papos / saem da penumbra /aos pulos, os sapos
/a luz os deslumbra/ em ronco que aterra/ berra o sapo-boi :/ -“ meu pai foi à
guerra! / - “ não foi “- “ foi” – não foi “ /o sapo- tanoeiro / parnasiano
aguado/ diz: - “ meu cancioneiro é bem martelado “/vede como primo/ em comer os
hiatos /que arte! E nunca primo em comer os hiatos! /que arte! E nunca rimo/ os
termos cognatos/ meu verso é bom/ frumento sem joio/ faço rimas com /
consoantes de apoio/ vai por cinquenta anos/ que lhes dei a norma: /reduzi sem
danos/ a fôrmas a forma/clame a saparia/ em críticas céticas:/ - “não há mais
poesia / mas há artes poéticas...”/urra o sapo- boi :/ - “ meu pai foi rei “- “
foi” – “ não foi “- “ foi” – “ não foi “/brada em assomo o sapo-tanoeiro :- “ a
grande arte é como / lavor de joalheiro /ou bem de estuário/ tudo quanto é
belo/ tudo quanto é vário/ canta no martelo” /outros sapo- pipas ( um mal em si
cabe )/ falam pelas tripas: - “ sei “ – “ não sabe “ – “ sabe “ /longe desta
grita / lá onde mais densa/ a noite infinita/ verte a sombra imensa/ lá, fugido
ao mundo , sem glória , sem fé/ no perau profundo/ e solitário, é que soluças
tu/transido de frio / sapo cururu/da beira do rio “/
Poema “ Os Sapos” de Manuel Bandeira (1886 – 1968), escrito
em 1918 e publicado no ano seguinte. Foi declamado por Ronald de Carvalho
durante a Semana de Arte Moderna de 1922.
“ Pra se poder viver/ compra-se o mundo em que se vive /como
quem compra um objeto/ secreto, mas visível /compram- se os seus problemas/ sem
solução/ quem nasce no mundo, hoje/compra, sem o querer/uma pomba / com um
alfinete feérico na cabeça /uma pomba extremamente vizinha de bomba /uma e outra têm asas/ uma e outra
são limpas/ ambas são irmãs pelo som/ um simples equívoco/ de fonemas ou de
telefonemas/ entre os dois hemisférios / uma troca de b por p/ e o mundo
explodirá/ em nossa mão (p) bomba /
Poema “ Flechas contra o muro “ de Cassiano Ricardo (1895 –
1975).
Ambos os poemas, de Manuel Bandeira e de Cassiano Ricardo,
metafóricos e atemporais, o primeiro como uma crítica aos exageros verbais do
Parnasianismo e o segundo sobre o perigo da polarização do mundo atômico com
seus cogumelos da morte. A alegoria se presta, também, para o delicado momento
que vivemos, onde pombas, bombas, facões e sapos, rondam nossas cabeças,
ameaçadoras, em desvario, num país dividido, incitado ao ódio por um bolo de falsos
líderes e atolado numa duradoura crise ética, política e social, ao sabor de um
mar encapelado pronto para engolir esta frágil nau sem rumo, ao deus-dará. Em
outubro vindouro utilizando uma poderosa arma, um voto consciente, podemos
acabar de vez com a corrupção.
Agora ou vai ou racha!
Agora ou vai ou racha!
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