O PAPAGAIO QUE SE FAZIA DE MUDO
Era uma vez um papagaio, gordo e triste, que não verberava
um ruído sequer, mudo que nem uma pedra. O seu dono, um político pertencente a
um partido que nunca larga o poder ou dum sol que nunca se põe, empanturrava o
pobre psitacídeo com alimentos nada saudáveis e cobrava em contrapartida que
ele não “ abrisse o bico “ mesmo sob a maior ameaça, fazendo sempre vista
grossa acerca de tudo que visse e ouvisse. A ave seguia à risca o conselho pois
sabia o tipo de gente com que lidava. Naquele recinto de ar pesado, circulavam
políticos de todas as matizes, que surgiam do nada, olhando para os lados com
as “ mãos abanando “ e dali partiam com pacotes de dinheiro “ in natura “
novinho em folha. Ninguém podia em sã consciência imaginar que o balofo
papagaio oriundo dum pequeno burgo perdido no meio das caatingas abrigasse uma
memória prodigiosa de um elefante. No seu possante hardware, em pastas
selecionadas estavam datas, nomes, empreiteiras e valores originários de
propinas.
Um belo dia, como soe acontecer nestas tragédias urbanas a
polícia federal estourou o lúgubre recinto levando pastas, computadores e
outros objetos sob suspeição. De quebra, um perverso agente da lei achou por
bem dar ordem de prisão ao gorducho papagaio. O bicho se mantinha mudo que nem
uma tosca pedra. Até que saiu a sentença fatídica:
“ – Não vai ter comida “ e se persistir na incômoda mudez
vai ser cozinhado vivo!
O velho e matreiro papagaio, tentando salvar a pele abriu a
matraca e verberou um minucioso relatório delatando deuses e o mundo, sem piedade,
num didatismo incomum àquele gênero de ave. Escorria dele feito uma baba de dar
nojo, um negro líquido parecendo petróleo, com um odor nauseabundo insuportável,
da mais pérfida corrupção. O imbróglio ainda não teve seu desfecho, mas o
baboso papagaio vindo do Norte e jurado de morte já entrou para a história como
um alcaguete de luxo que detonou um devasso reino perdido da terra dos
papagaios. Bem feito!
Como se percebe, o relato trata-se de uma simples fábula, um
conto de carochinha ou uma inocente história de Trancoso. Ainda bem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário