O ALIENISTA E O
SEMIDEUS
Um dos maiores vultos das letras brasileiras, o carioca
Machado de Assis (1834 – 1908) lançou no ano de 1882 o conto “ O Alienista “. A
história transcorre no município de Itaguaí no Rio de Janeiro onde um certo
esculápio, o Dr. Simão Bacamarte, “ filho da nobreza da terra e o maior dos
médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas “ entregou-se de corpo e alma ao
estudo da ciência e da saúde das pessoas. Deste modo com a ajuda de estipêndios
oriundos do poder público, o Dr. Simão Bacamarte fundou um asilo em Itaguaí com
o nome de “ Casa Verde “ para recolher das ruas os lunáticos da localidade. Aos
poucos o dito abrigo foi recebendo cada vez mais criaturas tornando Itaguaí uma
cidade quase fantasma. Logo formou-se uma rebelião contra o despótico doutor.
Um belo dia correu a notícia que os ocupantes da Casa Verde ganhariam a
liberdade e para o espanto de todos, o Dr. Simão Bacamarte mudara suas teorias
acerca da loucura e da sanidade mental. Assim, sem mais nem menos, o nobre
esculápio tornou-se o único ocupante da Casa Verde e ali morreu exatos
dezessete meses depois do internamento solitário. Muitos acreditam que nunca
houve em Itaguaí nenhum louco além daquele ilustre alienista, o Dr. Simão Bacamarte.
Agora em pleno século
XXI numa pobre província situada abaixo do equador, uma casa de reclusão verde
e amarela foi erguida sob os auspícios do poder público com a finalidade de dar
abrigo compulsório a gentes com sérios distúrbios de conduta, loucos pelo vil
metal, “ aquele que ergue e destrói coisas belas “, uns tais sujeitos
engravatados, de anel de brilhante nos dedos, cheios de lábia e plenos de
regalias a que nenhum cristão tem direito.
Um severo servidor público graduado, doutor de beca negra,
um semideus portando nome e sobrenome estrangeiro tem
tocado horror recolhendo à dita casa de detenção verde e amarela, numa
velocidade estonteante, figuras carimbadas do mundo da política planaltina
entre peixões e bagres. A cidade encontra-se quase vazia e entregue às baratas
e ratazanas. Por último até uma figura nipônica, folclórica e midiática que se
prestava a acompanhar, por ocasião do flagrante, os novos moradores da tal casa
de correção foi devidamente autuado. Um vexame, senhores! Perambulam pelas ruas vazias, grogues , meia dúzia
de “ perninhas e vermelhos desbotados “ mostrando os dentes uns para os outros
em atitudes beligerantes .Não se sabe ainda o epílogo desta tragédia bufa mas
alguns conjecturam para o tal doutor de beca negra, um fim idêntico ao do Dr.
Simão Bacamarte do conto do “ Alienista “ de Machado de Assis, o bruxo do Cosme
Velho. Duvido, mas vamos esperar sentados para ver!
Que sina, meu Deus, o
deste país do faturo! Cruz, credo!
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