terça-feira, 4 de março de 2025

 Crepúsculo da Vida

" Pôr do Sol é metáfora poética, e se sentimos assim é porque sua beleza triste mora em nosso próprio corpo . Somos seres crepusculares . O crepúsculo é belo por causa do rio , o fluir do tempo faz as cores mudarem . A vida e a beleza só existem por causa da Morte que torna possível que elas dancem ."
Rubem Alves ( 1933 - 2014 ) .
" Olhe estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas ,
Tanto mais belas quanto mais antigas ,
Vencedoras da idade e das procelas .
O Homem , a fera e o inseto , à sombra delas
Vivem , livres da fome e das fadigas :
E em seus galhos abrigam - se as cantigas
E os amores das aves tagarelas .
Não choremos, amigo , a mocidade !
Envelheçamos rindo . Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem ,
Na glória da alegria e da bondade ,
Agasalhando os pássaros nos ramos ,
Dando sombra e consolo aos que padecem "
Olavo Bilac ( 1865 - 1918 ) .
Foto que ilustra o texto : o crepúsculo do sol no Porto das Dunas , no litoral leste do Ceará.
Pode ser uma imagem de crepúsculo, horizonte, praia e natureza

segunda-feira, 3 de março de 2025

 Retiro Espiritual de Ana Lis

O Retiro Espiritual para jovens , representa uma breve pausa na rotina , e a reunião acontece numa expectativa de bem-estar numa conexão espiritual em plena intimidade com nosso Pai - Maior .
Faz - se uma aliança constando de :
- Atividade de lazer ;
- Momentos de oração e introspecção ;
- Relaxamento ;
- Grupo de estudos .
Neste encontro de irmandade , todos enfim , precisamos saber , amiúde, de onde viemos , escrutinando nosso passado ; saber para onde vamos , mirando vivamente nosso caminho ; e tendo ao nosso lado aqueles irmãos que nos são fiéis .
O limiar da adolescência representa a despedida da infância , e uma rica fase prenhe de sonhos e apreensões , antes de encarar a maturidade que nos contempla com estudos e labor , incluindo a construção de uma família. Num futuro distante surgirá , mansamente , a senescência que , rogamos , nos traga sabedoria , cuidados com a saúde , apoio familiar , independência financeira , novos saberes , e especialmente , participação ativa na sociedade .
Simples : a sinfonia ainda não acabou !
Há que se ouvir o silêncio de Deus e as palavras sóbrias das Escrituras , a fim de tomar decisões acertadas ao longo de nosso périplo terreal .
Deve - se laborar junto a nossos queridos irmãos em busca de um ideal pleno de amor , fé e bênçãos divinas . Sabe - se que tudo muda , tudo flui , tudo passa . São palavras do grego Heráclito de Éfeso ( 536 a.C. - 470 a. C. ) : a verdade do mundo , e fruto duma arte como pensamento.
Ponto Final.
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domingo, 2 de março de 2025

 Fortaleza Antiga : Carnaval da Saudade .

A mimosa Fortaleza dos anos 50 do século passado , vivia um mágico momento após o término da Segunda Guerra Mundial ( 1939 - 1945 ) , e no tríduo momino, esbanjava seu charme em clubes elegantes, bares , boates e, especialmente nas ruas com o corso / desfile de blocos.
O Carnaval de rua tinha início na área central da cidade , na Coluna da Hora, ao lado do Abrigo Central , e envolvia as ruas Senador Pompeu, Floriano Peixoto , Duque de Caxias e Dom Manoel . Por aquelas bandas desfilavam os Maracatus, as Escolas de Samba e os Cordões. O som dolente compassado e triste dos maracatus, marcado por triângulos robustos e surdos, com suas rainhas , baianas e escravos meneando um bailado rodopiante que contagiava a todos :
" Eu vou , eu vou e você não vai/ apanhar macaúba no meu balaio/ apanhar macaúba no meu balaio/ eu vou , eu vou e você não vai " .
Os Maracatus Estrela Brilhante, Rancho de Iracema , Ás de Espadas , Leão Coroado, e
Rei de Paus , faziam a alegria da moçada que dava um verdadeiro banho de lança - perfume no alvo sorriso das belas rainhas africanas. A Escola de Samba Luiz Assunção, algo insólito, era formada apenas pelos componentes da orquestra sob a batuta do próprio Luiz Assunção , compositor , pianista maranhense / cearense . Nenhum passista se apresentava neste bloco . A Escola de Samba Prova de Fogo exibia seus componentes ostentando na cabeça um esquisito chapéu de alumínio. Pontuava também a Turma dos Camarões, a Turma Bamba , os Garotos do Frevo, e o famigerado Cordão das Coca- Colas.
Sabe- se que , no final da Segunda Guerra Mundial, os militares americanos além das saudades da capital cearense, deixaram muitas " viúvas jovens " , ditas Coca- Colas " , supimpas garotas citadinas que mantinham algum envolvimento com os gringos da Vila Morena, situada na Praia de Iracema , num clube para entretenimento de oficiais do Tio Sam, e embrião do Restaurante Estoril, lar fraterno da boêmia cabeça - chata nas décadas seguintes. Naquele antro , moçoilas foram apresentadas ao famigerado refrigerante americano Coca - Cola , uma raridade na ocasião. Afirma- se , ainda que sem provas que algum cabeça- chata mordido de inveja dos branquelas estrangeiros , tenha criado o epíteto " Coca -Colas " para as gentis filhas do solo de Alencar . Humor picaresco à parte, o certo é que o termo caiu no gosto da gandaia . Uma cidade provinciana , à época, aceitar aquelas avançadas e liberais garotas de " boa família " que não mendigavam vantagens pecuniárias , metidas naquele furdunço, não era uma mera folia .
O corso , com automóveis e caminhões, envolvia gente de todo lugar, desde as mimosas damas e garbosos cavalheiros das famílias tradicionais cearenses, com suntuosas fantasias, até as representantes das pensões alegres da cidade, que não eram poucas. As " madames " com muitas purpurinas e paetês e suas " garotas " esbanjavam luxo e picardia para inocentes marmanjos a levarem corretores beliscões das digníssimas patroas. O aviso era claro :
" Se instruir Lança Perfume nestas sirigaitas , vai levar pela na frente dos outros " .
Ali estavam representadas as principais casas de perdição da cidade : Boate Monte Carlo , Boate Hollywood , Bar da Alegria, Boate Fascinação e Boate Imperatriz , representadas pelas suas proprietárias: Fanny, Graça, Naninha , Júlia Paraibana, e uma figura à parte, o gigante Zé Tatá. Tão logo o rei - sol voltava as costas para a terrinha, as luzes do pecado se acendiam para a noite de fuzarca naquele colar do pecado que envolvia o centro de Fortaleza. Muitos escorregavam para os clubes sociais da bela desposada do sol: Maguari, Náutico, Diários, Comercial, Líbano, Círculo Militar, Romeu Martins, Secai , Terra e Mar , Ícaro, Tira e Linha , e General Sampaio .
Nas diversas ruas e praças da cidade, levas de brincantes, incluindo " os papangus " , homens grotescamente vestidos de mulher, em algazarra, faziam um carnaval à parte. Eram "os sujos" . Nos dias seguintes a este folguedo de quatro dias, onde tudo era permitido, aumentava o faturamento das Farmácias Galeno, Pasteur, Arthur de Carvalho, Osvaldo Cruz e Belém, com a procura de Sal de Fructa Eno, Emulsão Scott, Cibalena, Instantina e Pílulas de Vida do Doutor Ross. Em ambulatórios no centro como o do " Prático Almeida " , disparava a demanda de Terramicina, Meracilina, Benzetacyl, Nitrato de Prata, Mercúrio Cromo e Furacin. O que ia além do conhecimento daquele humilde homem de branco, migrava para os serviços de Urologia da Santa Casa de Misericórdia e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina. Constituia a tradução fiel de uma verdade medieval : " Uma noite com Vênus e o resto da vida com Mercúrio " .
" Quanto riso, oh! quanta alegria/ mais de mil palhaços no salão/ Arlequim está chorando pelo amor de Colombina/ no meio da multidão/ foi bom te ver outra vez/ está fazendo um ano/ foi no carnaval que passou/ eu sou aquele Pierrô / que abraçou/ que te beijou, meu amor/ na mesma máscara negra/ que esconde o teu rosto/ eu quero matar a saudade/ vou beijar- te agora/ não me leve a mal, hoje é carnaval " ( Composição Máscara Negra, da autoria de Zé Keti - 1921 - 1999 .
Quase tudo foi engolido pela voragem do tempo. Apagaram- se as luzes dos clubes sociais, sumiu o corso e, o mais drástico para os saudosistas, as pensões alegres foram postas ao chão para ceder lugar a horríveis e estéreis estacionamentos. Barbaridade !
Foto que ilustra a crônica : Mercado Central de Fortaleza na Rua Conde D'Eu , nos anos 50 do século passado.
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