Orlando Dias - Batom no Espelho
" Tantas palavras, meias palavras / nosso apartamento , um pedaço de Saigon / me disse adeus em um espelho com batom / vai minha estrela , iluminando / toda esta cidade , como um céu de luz néon / seu brilho silencia todo som / às vezes , você anda por aí / brinca de se entregar / sonha pra não dormir / e quase sempre eu penso em te deixar / e é só você chegar / pra eu esquecer de mim / anoiteceu , olho pro céu e vejo como é bom / ver as estrelas na escuridão/ espero você voltar pra Saigon " .
Música " Saigon " , composição dd Cláudio Cartier e Paulo César Feital .
O servidor público e boêmio Orisvaldo da Silva , tirou licença - prêmio do Bar da Alegria , situado no colar de pérolas do pecado do centro de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção , onde animava uma roda brega - romântica, com uma fiel imitação do cantor pernambucano Orlando Dias ( 1923 - 2001 ) , de saudosa memória .
" Tu és a criatura mais linda / que os meus olhos já viram / tu tens a boca maia linda / que a minha boca beijou / são meus os teus lábios/ estes lábios que os meus desejos mataram / são minhas tuas mãos / estas mãos que minhas mãos afagaram/ sou louco por ti / eu sofro por ti / te amo em segredo / adoro o teu porte divino / pela mão do destino / a mim tu vieste / tenho ciúme do sol , do luar , do mar / tenho ciúme de tudo / tenho ciúme até / da roupa que tu vestes ".
Numa Autarquia do Estado , onde prestava serviço há trinta anos , Orisvaldo , agora andava casmurro e cabisbaixo Acomodava em sua cadeira de trabalho, o surrado paletó de linho branco " que até o mês passado lá no campo ainda era flor " , e escorregava de fininho para um boteco próximo com o intuito de enfrentar umas " sapuparas" com pitombas de vez .
Há coisa de seis meses , a cabocla maranhense Jussara da Silva , uma reluzente estampa do tipo rainha da Escola de Samba Unidos do Acaracuzinho, que batia ponto na Boate Continental , assinara um contrato verbal com o dito Orisvaldo, para bater bola no oitavo andar do famigerado edifício " balança mais não cai " , ali na Avenida Duque de Caxias .
Tudo quase foi por água abaixo , quando um desinfeliz foi segregar para Orisvaldo que alguém do brabo " MST " estava invadindo sua propriedade privada e mexendo na sua " ovelha - cabocla maranhense " . Numa rápida busca pela " feira dos malandros " , caíra nas mãos de Orisvaldo, um cospe - fogo Taurus 38 com numeração raspada . Pelo visto , mais uma tragédia anunciada .
Orisvaldo , naquela noite , meio truviscado , tocado pelo álcool , passando a mão pela cabeça, em busca de algum chifre , estava disposto a dar umas marradas a torto e a direito. Ali estava , no campo , Jussara , envergando um baby - doll preto , que deu trato àquele bicho brabo , com beijos quentes e loucos . Foi uma contenda e tanto com direito a prorrogação e mata - mata .
Orisvaldo , em franco nocaute técnico, deixou inocentemente à mostra , o pau - de - fogo em cima da penteadeira .
Jussara , faceira , e não besta , escafedeu - se , deixando uma pequena mensagem no espelho do quarto .
Por pouco não se escreveu com sangue inocente mais uma crônica policial nesta pobre terrinha machista .
- Orisvaldo , meu caro , fique frio isso se trata de coisa fútil saindo da sua imaginosa cabeça.
Ponto Final !
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