domingo, 21 de agosto de 2022

 Filosofia X Música Popular Brasileira

A filosofia - o amor à sabedoria - com sua indagações básicas, como : " de onde vim , quem sou , para onde vou " permeia , também o mundo cambiante e colorido da música popular brasileira. Não aquele filosofar acadêmico com uma pletora de "ismos ", do tipo , existencialismo, empirismo , dentre outros, mas as ditas coisas simples do nosso rico cotidiano.
É o saber em estado bruto, de pessoas humildes, a maioria sem vivência acadêmica formal, com passagens marcantes apenas nos bancos das escolas da vida ( poetas do morro ) . Claro que o enfeite do bolo faz - se com aqueles menestreis filhos do saber acadêmico ( poetas do asfalto).
Uns e outros , dois caudalosos rios misturando suas águas em busca do mesmo mar da cultura popular .
" O mundo me condena , e ninguém tem pena / falando sempre mal do meu nome / deixando de saber se eu vou morrer de sede / ou se vou morrer de fome / mas a filosofia hoje me auxilia / a viver indiferente assim / nesta prontidão sem fim / vou fingindo que sou rico/ pra ninguém zombar de mim / não me incomodo que você me diga/ que a sociedade é minha inimiga / pois cantando neste mundo/ vivo escravo do meu samba , muito embora vagabundo/ quanto a você da aristocracia/ que tem dinheiro, mas não compra alegria/ há de viver eternamente sendo escravo desta gente/ que cultiva a hipocrisia ".
Letra da música "Filosofia " da autoria de Noel Rosa , composta aos 23 anos de idade , por um gênio caboclo, com boa formação intelectual , e que trazia em seu bojo, críticas ao modo de vida ( boêmia) , à luta de classes ( rico , pobre ) , e ao poder da grana ( capitalismo) , que ergue e destrói coisas belas . Noel portava todos os atributos de poeta do asfalto e convivia , harmoniosamente, com os poetas do morro.
"Não sou eu quem me navega/ quem me navega é o mar/ é ele quem me carrega como nem fosse levar / e quanto mais remo mais rezo/ pra nunca mais se acabar/ essa viagem que faz / o mar em torno mar / meu velho um dia falou / com seu jeito de avisar / olha o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar/ timoneiro nunca fui / que eu não sou de velejar / o leme da minha vida/ Deus é quem faz governar/ e quando alguém me pergunta/ como se faz pra nadar / explico que não navego / quem me navega é o mar/ a rede do meu destino/ parece a de um pescador/ quando retorna vazia, vem carregada de dor/ vivo num redemoinho/ Deus bem sabe o que faz/ a onda que me carrega/ ela mesmo é quem me traz".
Paulinho da Viola é um dos compositores da modernidade que mais insere pérolas filosóficas em seus temas de amor e vida .
O assunto em pauta - música X filosofia - exige roupa de gala para ser sorvido num fim de tarde, curtindo o sol deitando nos braços do oceano, na Ponte Velha , Praia de Iracema , na " Loura desposada do sol " .
Claro, com os apetrechos necessários: a cabrocha, o luar , a caninha , e o violão, com vistas a uma libação filosófica de respeito.
Carpe Diem!
Pode ser uma imagem de corpo d'água e natureza
Martinho Rodrigues, José Edmar Lima Filho e outras 3 pessoas
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