UMA FÁBULA
SOBRE CORVOS E BRUCUTUS
Um colegiado de estrambóticos corvos foi instalado com fins
de julgar um parvo brucutu por claros distúrbios de comportamento, não
condizentes com as leis vigentes, num certo burgo perdido nos confins do mundo,
onde o cão perdeu as botas. A despeito de um rosário de provas contra o tal
brucutu, comprometedores à beça, o veredito tem sido dado a favor do brucutu,
inocentando, assim, o mesmo por excesso de provas. Vamos convir, algo ridículo
e deveras patético!
Opa! Os termos “à
beça”, “à bessa”, “Abessa”, são citados de diversas maneiras por vários
filólogos. O cearense e acadêmico Raimundo Magalhães Junior (1907- 1981) no
Dicionário de Provérbios, Locuções, Curiosidades Verbais, Frases Feitas,
Etimologias Pitorescas e Citações (1974), que nas páginas 10 e 11 explica:
“À bessa” representa o mesmo que abundantemente, com fartura,
de maneira copiosa. A origem do dito é atribuída às qualidades de argumentador
do jurista alagoano Gumercindo Bessa (1859-1913), advogado dos acreanos que não
queriam que o território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas...
Gumercindo apresentara argumentos tão esmagadores e tão numerosos, que logo se
tornou figura respeitada nos meios forenses. Conta-se que certa vez um cidadão
procurou o Presidente Rodrigues Alves para pleitear determinados favores e com
a tal eloquência expôs suas ideias que o ilustre estadista teria observado: - O
senhor tem argumento à Bessa... Com o tempo a maiúscula de Bessa desapareceu”
O certo é que o resultado do julgamento do brucutu em pauta, trouxe
um mundo de incertezas e quase” ninguém entendeu patavina”.
Opa! De onde vem a palavra
“patavina”? Segundo Deonísio Silva em seu livro “A Vida íntima das Frases “, na
página 151, patavina origina-se de Padova nome dado àqueles nascidos em Pádua,
em latim, pataviua, logo transformado em patavina que significa não entender
nada.
No final, o tal imbróglio deste inusitado julgamento pode
terminar como” um tiro que saiu pela culatra”
Opa! Culatra vem de parte posterior da arma (cullata): um
tiro para trás, ou contra a própria pessoa, ou seja, no próprio brucutu da
história.
As coisas andam feias nestas ignotas terras e o povo precisa
entender “tim – tim por tim-tim” o que está a ocorrer! O termo tim-tim diz
respeito a uma onomatopeia criada para reproduzir o som de moedas caindo ao
chão.
“Dinheiro na mão é vendaval/é vendaval/na vida de um
sonhador/de um sonhador/quanta gente se engana/e cai da cama/com toda a ilusão
que sonhou/e a grandeza se desfaz/quando a solidão é mais/alguém já
falou.../mas é preciso viver/ e viver/não é brincadeira, não/quando o jeito é
se virar/cada um trata de si/irmão desconhece irmão/e aí/ dinheiro na mão é
vendaval/dinheiro na mão é solução/e solidão/ e solidão”
Composição musical “Pecado Capital ”de autoria do cantor,
violonista, poeta e filósofo carioca Paulinho da Viola (1942 -).
“Parece-me que, depois de haver visto o que é a temperança, a
coragem e a prudência, falta-nos examinar o próprio princípio dessas virtudes,
o que as gera e as conserva por todo o tempo que subsiste. Ora, dissemos que,
descobertas as três primeiras virtudes, só nos restaria descobrir o seu
complemento, que é a justiça.” Platão
(428-347 a. C.).
Justiça, pois, é o que todos desejamos!
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