Mário Quintana : Não Sou Alegre Nem Triste ,
Sou Poeta
" Nasci em Alegrete , no Rio Grande do Sul , em 30 de julho de 1906 . Minha vida está em meus versos . Meus poemas são eu mesmo , pois nunca escrevi uma vírgula sequer que não fosse uma confissão . Idade, só há duas : ou se está vivo ou morto . O segredo não é correr atrás das borboletas ... É cuidar do jardim para que elas venham até você " .
Mario Quintana ( 1906 - 1994 ) começou a esculpir versos logo que aprendeu a ler .Suas verdadeiras influências foram o bardo português Luiz Vaz de Camões, e a Revista Tico - Tico . Mas a poesia não é inspiração pura , é trabalho ; não é só esperar que o santo baixe , é preciso puxar o santo pelos pés e isso dá trabalho . As palavras são rebeldes .
Aos 17 anos , o poeta passou a trabalhar numa farmácia , onde fazia uma limonada de citrato de magnésio, que segundo ele , parecia um sol engarrafado .
Interessante observar que , também, mexiam em farmácia : Alberto Oliveira , o Príncipe dos Poetas Brasileiros ; Carlos Drummond de Andrade, e o grande contador de histórias, Érico Veríssimo . Quintana trabalhou pela Editora Globo , na tradução de obras de figuras importantes da Literatura Mundial como , Marcel Proust, Honoré de Balzac , e Guy de Maupassant . E gostava tanto da tarefa que falava :
" Se dinheiro tivesse , pagaria , ao invés de receber , pelo prazer de estar convivendo com tais celebridades " .
Em três ocasiões , Mário Quintana concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras ( ABL ) e em todas não logrou êxito . Luís Fernando Veríssimo parte da premissa de que pertencer ou não à ABL , de nada alteraria na vida e obra de Quintana. Mas não estando lá , é um prejuízo para a Academia .
E hoje , alguém imagina para onde caminha a vetusta Academia ?
" Todos estes que estão aí atravancando meu caminho , eles passarão . Eu passarinho " . Assim o poeta falou o poeta .
O metapoeta pernambucano Manoel Bandeira desenhou uns versos para Mário Quintana:
" Meu Quintana , os teus cantares / não são, Quintana, cantares/ são Quintana , quitanares / quinta - essência de cantares/ insólitos, singulares / cantares ? Não! Quintanares / quer livres , quer regulares / abrem sempre os seus cantares / como flor de quitanares/ são cantigas sem esgares/ onde as lágrimas são mares de amor/ os teus quitanares / são feitos esses cantares / de um tudo - nada : ao falares/ luzes estrelas luares/ são para dizer em bares / como em mansões seculares / Quintana, os teus quitanares / sim, em bares , onde os pares / se beijam sem que repares/ que são casais exemplares/ e que no pudor dos lares / quer no horror dos lupanares/ cheiram sempre os teus cantares / ao ar dos melhores ares / pois são simples , invulgares/
Quintana, nos teus cantares.../ perdão, digo Quintanares " .
E a divina Cecília Meireles também fez mimos ao nobre Mário Quintana:
" O Natal foi diferente / porque o Menino Jesus disse à Senhora Sant'Ana: / Vovozinha , eu já não gosto das canções de antigamente/ cante as do Mário Quintana! / viram - se então os anjinhos / de livros abertos nas mãos/ deslizar no ouro dos ares / estudaram nova solfa/ pelos celestes caminhos / e ensaiaram quintanares " .
"