quinta-feira, 3 de julho de 2025

 Juramento Médico de Amato Lusitano

" Juro perante Deus imortal , que na minha clínica nunca tive mais a peito do que promover a Fé intacta das coisas chegasse ao conhecimento dos vindouros . Nada fingi , acrescentei ou alterei em minha honra o que não fosse em benefício dos mortais . Nunca lisonjeei, nem censurei ninguém ou fui indulgente com quem quer que fosse por motivo de amizades particulares;
Sempre em tudo exigi a verdade ;
Se sou perjuro, caia sobre mim a ira do Senhor , e ninguém mais tenha confiança no exercício de minha arte ;
Quanto a honorários, que se costuma dar aos médicos, também fui sempre parcimonioso no pedir , tendo tratado muita gente com mediana recompensa e muita outra gratuitamente .
Muitas vezes rejeitei firmemente grandes salários, tendo sempre mais em vista que os doentes por minha intervenção recuperassem a saúde do que tornar - me mais rico pela sua liberalidade ou pelos seus dinheiros.
Nunca provoquei a doença;
Nos prognósticos sempre disse o que sentia ;
Não favoreci um farmacêutico mais do que outro, a não ser quando nalgum reconhecia , por ventura , mais perícia na arte e mais bondade no coração, porque então o preferia aos demais ;
Ao receitar sempre atendi às possibilidades pecuniárias do doente , usando de relativa ponderação nos medicamentos prescritos;
Nunca divulguei o segredo a mim confiado.
Nunca a ninguém propinei poção venenosa ;
Com a minha intervenção Nunca foi provocado o aborto ;
Em suma , jamais fiz coisa de que se envergonhasse um Médico preclaro e egrégio.
Sempre tive diante dos olhos , para os imitar , os exemplos de Hipócrates e Galeno , os Pais da Medicina, não desprezando as Obras Monumentais de alguns outros excelentes Mestres na Arte Médica;
Fui sempre diligente no estudo e , por tal forma , que nenhuma ocupação ou circunstância, por mais urgente que fosse , me desviou da leitura dos bons autores ;
Os discípulos que até hoje tenho tido , em grande número e em lugar dos filhos , tenho educado, sempre os ensinei muito sinceramente a que se inspirassem no exemplo dos bons ;
Os meus livros de Medicina nunca os publiquei com outra ambição que não fosse o contribuir de qualquer modo para a saúde da Humanidade ;
Se o consegui , deixo a resposta ao julgamento dos outros, na certeza de que tal foi sempre a minha intenção e o maior dos meus desejos "
Juramento datado no ano de 1559 , da lavra do médico judeu português do século XVI , Amato Lusitano, nascido em 1511 , e falecido em 1568 , vítima de peste bubônica .